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Tensões não faltam


A cautela volta a tomar conta dos mercados financeiros, diante das dificuldades do noticiário econômico em driblar o imbróglio político, tanto em Brasília quanto em Washington. A piora do sentimento nos negócios também é justificada por mais um atentado terrorista na Europa, deixando o quadro desfavorável para ativos de risco.

As principais bolsas europeias estavam fechadas ontem quando Barcelona viveu cenas de terror, que matou 13 pessoas. A Espanha segue em alerta máximo, após um novo ataque perto da cidade catalã, onde um veículo também avançou sobre uma área de pedestres e deixou feridos. A Bolsa de Madri caia cerca de 1% logo cedo, na primeira reação a ataque do Estado Islâmico, o que também assusta Paris, deixando o índice CAC 40 no vermelho.

As ações de companhias aéreas e ligadas ao lazer lideram as perdas, o que pesa sobre a Bolsa de Londres. Os investidores partem em busca de proteção nos ativos seguros, como o iene e o ouro, ao passo que o dólar ganho terreno em relação às moedas de países emergentes. As commodities metálicas recuam, mas o euro e o petróleo ensaiam recuperação. Do outro lado do Atlântico Norte, Nova York também está no negativo.

Lá fora, os investidores parecem cada vez mais céticos de que as promessas de Trump vão sair do papel, já que só se ouve na Casa Branca o jargão que fez o presidente dos Estados Unidos famoso na TV. Após a destituição do conselho de empresários, criado para ser um elo com o setor produtivo, Wall Street assustou-se com a notícia de que o ex-presidente do Goldman Sachs Gary Cohn também iria deixar o cargo no governo norte-americano.

A relevância do boato, ainda não confirmado, se dá porque Cohn é cotado para substituir Janet Yellen no posto de presidente do Federal Reserve assim que terminar o mandato dela, no ano que vem. A experiência financeira de Cohn poderia imprimir um ritmo de autorregulação no processo de normalização da taxa de juros nos EUA, o que manteria a liquidez de recursos pelo mundo por mais algum tempo.

As preocupações quanto às disfunções do governo Trump, que vem colecionando desavenças à cada posição contrária à dele, paralisam a política econômica nos EUA. Afinal, o republicano prefere optar pela via mais radical, demitindo pessoas ou dissolvendo parcerias. Sem muita margem para negociação, é difícil acreditar que a proposta de cortes de impostos e aumento de gastos irá avançar no país.

Se o clima está menos favorável no exterior, não se pode dizer algo muito diferente daqui. Os investidores resolveram trocar o otimismo após a solução dada pela equipe econômica para o rombo das contas públicas por uma postura menos arriscada, uma vez que a agenda de reformas pode atrasar no Congresso.

Os parlamentares têm outras prioridades e a agenda legislativa cheia, com prazos de várias medidas provisórias (MPs) vencendo até o mês que vem, deve relegar a reforma da Previdência. O tema só deve entrar na pauta em outubro e as agências de classificação de risco deram prazo para ver as novas regras aprovadas, sob a ameaça de rever a nota de crédito brasileira.

Antes de discutir as questões polêmicas sobre a aposentadoria, a Câmara ainda precisa formar quórum para votar a reforma política, alterando o atual sistema eleitoral e o financiamento de campanha. O assunto é considerado prioritário, já que há o interesse em colocar as leis em vigor para as eleições de 2018.

De olho nas urnas, a propaganda política do PSDB ontem na TV gerou polêmica, inclusive entre os tucanos. Os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) criticaram o programa, que também não foi bem visto no Palácio do Planalto. Durante cerca de 10 minutos, o partido criticou o atual modelo político do país (o presidencialismo) e também a atual gestão do presidente Michel Temer, em uma peça conduzida pelo presidente do PSDB, Tasso Jereissati.

Além de ter deixado claro que a sigla está rachada, o programa de TV abre espaço para o "Centrão" pressionar ainda mais o governo. Afinal, depois do apoio de partidos para barrar a primeira denúncia contra Temer, a conta ainda não foi paga e PRB, PP e PSD cobram por recompensas. Aliás, não se pode esquecer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode apresentar nova denúncia contra o presidente. E o custo para livrá-lo de outra acusação pode ser mais salgado, à medida que se aproxima o pleito do ano que vem.

Ainda no Congresso, as atenções estão voltadas à MP que cria a nova taxa de juros de longo prazo, a TLP, em substituição à TJLP. A medida enfrenta resistência do setor produtivo sob o argumento de que a mudança encarece os empréstimos no BNDES e favorece a concessão de crédito pelos bancos, que têm buscado diversificar as receitas diante da queda da taxa básica de juros.

A única coisa que parece certa, por ora, é a continuidade da trajetória de queda da Selic. Nem mesmo os sinais de estabilização da atividade econômica no segundo trimestre deste ano demovem as apostas de que o Banco Central deve cortar o juro em mais um ponto percentual, para 8,25%, em setembro.

Ontem mesmo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, alertou que o Produto Interno Bruto (PIB) pode voltar ao campo negativo, após interromper uma sequência de quedas nos três primeiros meses de 2017. Se não cair "um pouquinho", o número pode ficar próximo de zero, disse.

A agenda de indicadores econômicos do dia é fraca e os investidores devem ficar atentos aos movimentos do governo para rearticular a base aliada, o que tende a ampliar a postura defensiva nos negócios locais nesta sexta-feira. Ainda mais diante de calendário repleto de indicadores e eventos relevantes a partir da semana que vem, no Brasil e no exterior.

Hoje, destaque apenas para uma nova prévia do IGP-M em agosto (8h) e para a leitura preliminar deste mês do sentimento do consumidor norte-americano (11h).

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